quarta-feira, 30 de abril de 2008

Futuro do pretérito

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Tinha-a agora em seus braços. Noites de solidão, dias de chuva junto à vidraça, a cama gelada, a escova de dentes solitária... Foram-se. Num longo beijo, trocou o passado pelo futuro.
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terça-feira, 29 de abril de 2008

apelo do mar em remoinho

Joan Miró (imagem do google) Bleu II
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entre o musical ranger das tábuas toca o sino do navio.
embriagada de sal oiço scherzi, ópera e ondulo como uma batuta.
por fim chego a terra, empurrada pelos ventos do Oeste, e adormeço em delírio.

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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Zéfiro

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imagem daqui


Se fosse vento amealharia lufadas, varreria estradas, esvoaçaria cortinas até encontrá-la. Mas era brisa, vento miúdo, aragem. Teria que esperá-la abrir a janela para então dizer que a amava.

sábado, 26 de abril de 2008

a cadeira vazia

arts picasso
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conhecera-o pela net.
o primeiro e único encontro foi na sala do teatro S. João, onde decorria o bailado D. Quixote.
o perfume dele era horrível.
para não tirar da bolsinha a arma de defesa, saiu.
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sexta-feira, 25 de abril de 2008

Cravado n'alma


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Olhou no olho do jovem que lhe ameaçava com um cravo. Ria da inocência, desdenhava do sonho e arrotava empáfia. Sua arma era o medo, seu fim, a arrogância.




quinta-feira, 24 de abril de 2008

as meias cor de rosa


imagem do google

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A fábrica enganou-se e não colocou calcanhares nas meias cor de rosa
A menina passou a andar em bicos de pés.
Chegou a ser par de Barishnikov.

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quarta-feira, 23 de abril de 2008

Atrás do olhar


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Acordou-se, levantou-se, foi até o banheiro e olhou-se ao espelho. Já não era ele naquele velho corpo... Porém deteve-se: lá no fundo do olhar um menino lhe acenava sorrindo.
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terça-feira, 22 de abril de 2008

através de gabo

imagem do google

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tinha acabado de ler o pequeno livro, quando um pobre lhe bateu à porta
- o quê?!?! não, não preciso, obrigada, já tenho.
foi para dentro e requentou o café.

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segunda-feira, 21 de abril de 2008

a frequência cardíaca e o tempo

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sentia a pulsação aumentar sempre que lhe diziam que ele voltava amanhã.
um dia, o tempo parou e, ela ficou em linha contínua.
o enfermeiro baixou-lhe as pálbebras.
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sábado, 19 de abril de 2008

a aridez do deserto

imagem do google



contava-se, num tempo Dali distante, que um homem louco e de longos bigodes pintava relógios. depois, colocava-os ao sol para secarem e eles derretiam.

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sexta-feira, 18 de abril de 2008

Out of the scene


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Entrou no concerto com a esposa em vestido de gala a sua direita e sentaram-se na quinta fila. Só o tiritar de rock dos dedos na poltrona fez a mulher procurar pelo fone oculto no lado esquerdo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

cerimónia de despedida

partitura de bach (google)
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a medo, passou a mão no desnudado teclado.
sentou-se, abriu a pauta e desafiou as dolorosas artroses nos dedos.
tocou bach como nunca.
conseguiu até ver um sorriso na face pálida do marido.
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quarta-feira, 16 de abril de 2008

Náusea

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Durante o beijo, lembrou-se que mal o conhecia... Sentiu um gosto estranho, com a língua a varrer-lhe o paladar. Abriu os olhos e fechou a boca a tempo de reter a náusea.

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terça-feira, 15 de abril de 2008

park güel

photo google




sempre irrequieto, o pequeno Gaudi empoleirou-se no armário para pegar a caixa das bolachas.
a loiça caiu toda e partiu-se.
para disfarçar foi colá-la nos bancos do jardim.



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segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sem ressaca

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Nas duas ruas em que cruzava, quatro faróis se aproximavam. As duas garrafas de suas duas mãos direitas lhe desequilibraram e nenhuma de suas pernas lhe ajudou a correr.
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sábado, 12 de abril de 2008

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Naufrágio



Serene Sail 2, by Toni Grote

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De madrugada, encharcado pela noite de naufrágio em lembranças, o que mais queria era um gole d'água. Levantou-se, bebeu direto na pia, engasgou-se e morreu solitário em frente ao espelho.

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quinta-feira, 10 de abril de 2008

uma questão de timing

gears of time, by michael naples
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O médico deu-lhe 24 horas de vida.
Ela parou o relógio e foi viajar.
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quarta-feira, 9 de abril de 2008

au clair de la lune

corn crib at night, by toni grote
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Ouviu dizer que em cada gota de orvalho existia um conto.
Pediu à mãe para dormir na relva.
Quando amanhecia lia mini contos, pois seu corpo era franzino e não dava para grandes histórias.
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Mares interiores


Peace, by Toni Grote
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No barco chorava copiosamente e as lágrimas o levavam a um oceano incerto.
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